Quando combinados, a tecnologia e o trabalho humano se complementam. Quando falamos em inteligência artificial, essa combinação é capaz de alterar substancialmente nossas vidas, nossa relação com o trabalho e, por que não, a prática da advocacia.
A inteligência artificial permitirá a automação dos processos – incluindo a checagem dos dados – deixando o advogado com mais tempo disponível para atividades de maior valor agregado em benefício do cliente.
Mas não é só isso: com a inteligência artificial, clientes e advogados partirão de uma mesma base de dados para a análise dos casos, sem assimetria de informações e com custo baixo de pesquisa e mão de obra. Essa constatação muda completamente a lógica da advocacia tradicional.
Isto posto, qual será o papel do advogado no futuro? Quais os atributos e o que será esperado de um escritório dentro deste cenário que se desenha (lembrando que o futuro já chegou)?
1) Advocacia propositiva.
Com a base de dados disponível a todos – advogados e clientes – o papel do advogado deixará de ser majoritariamente responsivo. Os profissionais precisarão entender profundamente o Direito, as ferramentas de tecnologia e a inteligência artificial e sua aplicabilidade nos negócios, em um novo perfil generalista-especialista, para identificar oportunidades e gerar valor nas suas ações junto aos clientes.
O futuro será de profissionais com formações e/ou especializações além do Direito, promovendo um serviço de maior valor agregado ao cliente, utilizando um conhecimento multidisciplinar. Os escritórios de advocacia serão ainda mais indispensáveis para a estruturação dos negócios das empresas, ocupando um papel proativo e complementar às áreas de negócio.
2) O advogado como copiloto.
Segundo o CEO da Microsoft, Satya Nadella, a atual geração da inteligência artificial traz os usuários para a função de copilotos – em vez de operarem no piloto automático. Só usufruirá o benefício da IA o usuário que estiver junto dela, pilotando com ela. Não serão necessárias muitas pessoas para tanto: somente poucos e bem preparados profissionais.
Assim, o advogado que hoje apenas apresenta as respostas será substituído por aquele que souber fazer as perguntas corretas. É este profissional que conseguirá trazer soluções diferenciadas e de alto valor agregado em termos de prestação de serviços.
3) A qualidade do profissional fará toda a diferença.
A vivência de casos, uma bagagem teórica bastante profunda, a multidisciplinariedade e facilidade de aprendizado, a familiaridade com as ferramentas tecnológicas, a curiosidade e capacidade de comunicação clara serão diferenciais muito desejáveis. A excelência na prestação de serviços jurídicos será obtida pelos profissionais que conseguirem identificar o que é essencial, o que de fato atende ao cliente.
Em outras palavras, após depurar as informações disponibilizadas pela tecnologia e, na grande maioria das vezes, já analisadas e previamente discutidas pelos clientes, o advogado terá que apresentar a melhor solução, agregando sua experiência e valor humano.
4) A diversidade será essencial.
Diversidade no campo das ideias e das relações. Somente com ela será possível navegar as incertezas, com ouvidos e olhar atentos a todos os stakeholders impactados pela assessoria legal.
O papel de um escritório de advocacia terá de ser inclusivo, com ações e medidas para incorporar as opiniões divergentes e os mais variados tipos de olhar, com ações práticas de igualdade de gênero e inclusão.
5) Propósito e ideias compartilhadas.
O escritório precisará ser um ambiente colaborativo de cocriação, onde as pessoas buscam propósito e felicidade.
A integração do time e o storytelling com engajamento geram pertencimento real e tornam a experiência do cliente ímpar e verdadeira.
6) Sustentabilidade como pilar de decisão.
Um escritório de advocacia precisa ter sustentabilidade em suas instalações. Estruturas muito grandes e hierarquizadas não parecem fazer mais sentido. A inteligência artificial fornecerá as informações necessárias para a tomada de decisão, sem que para isso sejam necessárias infindáveis horas de pesquisa e busca de informações.
O ser humano continuará a peça essencial na prestação de serviços jurídicos – mas deixará a máquina fazer o trabalho burocrático e de pesquisa.
Caberá ao advogado se ocupar do essencial: validar e aprimorar a melhor solução jurídica, levando sempre em consideração as relações humanas e a felicidade dos envolvidos.
A proposta para o futuro é a prática de uma advocacia descomplicada, personalizada, que se utiliza das ferramentas tecnológicas para valorizar o trabalho humano de qualidade, com foco nos clientes.
O artigo foi produzido pelo SouzaOkawa Advogados e publicado pelo Brazil Journal. Para acessar na íntegra, acesse o link abaixo.